Mal me quer
Mal me quer

Mal-me-quer, bem-me-quer. Assim brincava a menina com as pétalas de uma flor.

Naquele dia tudo era estranhamente invulgar, como se uma nuvem tivesse chorado todo o seu negro e coberto a terra com uma tela pintada a cinzento.
No ar um riso de pássaros povoava o céu vestido de nuvens. 
Mal-me-quer, bem-me-quer. Tudo dito pelas pétalas de uma flor. Uma a uma, a menina ia despindo as flores ao mesmo tempo que ia pensando nas pessoas de quem gostava. Mãe: mal-me-quer, bem-me-quer, muito, pouco, nada. Pai: mal-me-quer, bem-me-quer, muito, pouco, nada. Ovelha Zita: mal-me-quer, bem-me-quer, muito, pouco, nada.
A tarde ia passando e a menina acabou por esgotar os nomes, as pessoas, as coisas. À última flor guardou-lhe a vida, o mundo para lá do seu limite. Sabia, porém, que essa lhe era ainda desconhecida e, por isso, lhe reservava imensas surpresas. 

Mal-me-quer, bem-me-quer, muito, pouco, nada. Mal-me-quer, bem-me-quer, muito, pouco, nada. Mal-me-quer. A menina olhou a pétala por arrancar, pousou a flor no chão e partiu com os olhos rasos de água. Às vezes o mundo é um lugar a preto e branco.


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