Ela sentou-se no banco negro do jardim e deixou-se enlaçar pelo prelúdio da noite. Aos seus pés, o nada daquele dia embrulhado num manto de solidão. No rosto o traçado do tempo. No peito a saudade daquilo que não foi. O musgo quente acaricia-lhe os pés enquanto regados com lágrimas de solidão.
A noite estava vestida de silêncio e as luzes incandesciam o céu com o seu olhar. A rua como que avançava para si, nua, atravessando-lhe o corpo para morrer longe.
O vento assobiava, num murmúrio triste, por entre as folhas das árvores. Os pássaros, quietos, adormeceram-se há muito.
Um leve esvoaçar de folhas secas fez estremecer toda a quietude da noite. Fê-la, também, sobressaltar.
A noite foi entrando na noite, de mansinho, cobrindo cada momento com o seu manto negro. Ela, naquela ausência de si, cobre os ombros com um xaile branco que a sua avó lhe dera, era ela ainda criança. No seu olhar, a sombra da noite. Na sua pele, o escuro tingido do luar. Nos seus lábios, o gosto amargo da solidão.
Aquela noite, pedaço rasgado de todas as noites findas, era o presságio da solitude. Era a calma de um lugar, contudo, a turbulência do perene desconforto. Era o amor a ir embora.
A chuva começa a cair, ao de leve, fazendo pequeninas covas na terra feita pó. Alguns pássaros acordam. Ela olha aquela noite com a leveza do amor.
Gosto quando tudo se cala, pensa. Gosto quando a ausência de mim se transforma na dor inquietante de me querer, pensa. Gosto, sobretudo, quando o vento faz calar o silêncio, pensa. Porque o silêncio, como o amor, também dói.