Mãe, quando morremos somos aquelas estrelas pequeninas, pergunta a menina.
Sim, somos todas aquelas estrelas que nos piscam o olho a rir.
Mãe, qual delas é o mano, volta a perguntar. A mãe olhou todas aquelas estrelas que doíam e, no silêncio que se esconde por trás de todas as dores do mundo, não soube responder à menina. Nos seus olhos habitavam rios de água, albufeiras de dor que, indizíveis, tristes até, procuravam o menino.
A mãe procurava o olhar do menino, os cabelos do menino, o riso do menino, o encanto mágico das noites frias e o abraço quente do menino. A mãe procurava e tudo o que via eram milhares de luzes nos seus olhos, todas iguais e a rir. Não há sofrimento maior que o amor, pensa.
A menina, que via o amor do outro lado, que via o amor por dentro do amor, diz, mãe, o mano disse que, quando morresse, para eu olhar para o céu para ver o amor. Sabes o que é o amor, mãe? O amor é aquelas estrelas mais pequeninas, é os meninos e meninas que, à noite, se sentam comigo à janela a contar histórias de poetas. E riem, riem muito, e dizem que o amor é as estrelas a rir. Estás a ver, mãe, as estrelas estão a rir.
A mãe, que apenas conhecia o sofrimento do amor, abraça a menina e cala a voz num suspiro breve.
A menina, que via o amor do outro lado, diz, mãe, não chores. Sabes, o amor não tem que doer.