Algumas dores são difíceis de explicar, parece que já cicatrizaram há tempos, já não há nem mais sinal da cicatriz, mas quando você mete o dedão na superfície sente aquela pontada de dor, como se a ferida ainda estivesse se curando.
Eu tenho uma imunidade bem alta para esse tipo de coisa. Minhas amigas sempre comentam que não me vêem reclamando, choramingando pelos cantos por causa de um amor que se foi. E realmente não sofro mesmo. Aliás, sofro por nunca mais que três semanas. Posso passar por um período de loucuras, sumir do cenário e aparecer com um novo corte de cabelo, começar outro relacionamento sem futuro apenas para me distrair… Mas não sofro, não deito na cama para dormir e fico pensando em como foi bom, como poderia ter sido melhor, como sinto falta… Sinto aquela dor momentânea que logo passa e a vida volta ao normal novamente.
Já sofri, confesso. Até o meu primeiro namoro terminar eu sofria muito por causa dos homens. Com ele eu percebi que não se deve esperar muito de uma relação mesmo. Sofri por quase um ano depois do término e o observei sofrendo por uns três meses, mas não havia volta, o sofrimento seria maior juntos. Não sofri com o término de um pseudo-casamento de cinco anos, nem com o “fim” do relacionamento mais atual (a gente ainda se pega e é amigo, mas a esperança de um namoro e o amor que levava ao sofrimento por saudades ou outras coisas morreram de um dia para o outro, sem pena, apenas porque assim eu decidi).
Qual é o segredo? Simples, apenas pense que ele não é a pessoa certa pra você. Você vai ficar sofrendo pela pessoa errada, amando a pessoa errada, se martirizando e se impedindo pela pessoa errada? Se fizer isso a pessoa certa passa e você nem vê. E acredite, se você está sofrendo por ele(a), é a pessoa errada, a pessoa certa não te faz sofrer.
Mas tudo isso foi apenas uma explicação sem sentido para tentar justificar o injustificável do primeiro parágrafo. Se eu sei tudo isso, se eu já não penso mais, já não sinto mais e já não sofro mais (ah, e por esse eu sofri, foram as três semanas mais longas da minha vida), porque ainda dói da mesma forma que doía? É como um membro fantasma, que já não pertence mais ao seu corpo, mas quando alguma coisa acontece você sente como se ele estivesse ali, no mesmo lugar. E acredite, ele é a pessoa errada, está estampado na testa dele.
Não basta olhar para ele. Não penso mais nele como homem, não sinto falta, saudades, amor… nada! Sou perfeitamente capaz de dividir o mesmo ambiente, vê-lo com outra garota, conversar como amigos (que acho que somos)… mas quando a gente conversa sobre o assunto, aquela dor das três semanas volta a assolar o meu peito como se nunca tivesse ido embora e permanece por um dia me maltratando.
Penso que talvez seja mais fácil cortar o membro fantasma de vez da minha vida. Mas me preocupo com ele como me preocupo sempre com as pessoas que tenho carinho. Gosto de saber como meus amigos estão, se estão bem e se eu posso fazer algo para ajudar. Cheguei a pensar que talvez, por esse excesso de anticorpos que não me deixam sofrer, talvez a ferida não tenha se curado como deveria. Como uma cárie que não foi removida por completo e o dente foi selado com aquele resquício ali. Apenas abrindo novamente o dente e arrancando mais profundo que ela será extinta.
Mas para achar uma cárie assim é preciso um RaioX, olhar para dentro de si mesmo é complicado demais. Não sei o que fazer ou por onde começar. Não adianta tentar resolver a dois, essa é uma coisa de mim para mim mesma, mas estou aceitando diagnósticos…